“Em Nova York, quando a mulher é jovem, ela quer aparentar ser mais velha. Mais séria. Esse lado profissional e a maneira de se vestir de uma mulher aqui é muito intenso aos 20 e poucos anos, por causa da afirmação social e do trabalho. A medida que ela vai ficando mais velha e mais segura, e melhor posicionada profissionalmente e socialmente, ela quer voltar muito a ser sexy. No Brasil, parece que a juventude vai acabar cedo e que depois não existe mais felicidade – e que aos 40 ou 50 anos você já está velho. Aqui é diferente: há dignidade nas pessoas mais maduras; parece que o país é feito para elas. Você vai nos restaurantes da moda em São Paulo e você só vê jovem. Você vai num restaurante da moda em Nova York, a maioria das pessoas são maduras. Elas saem, querem se vestir, querem se sentir desejadas.”
“Eu estava aqui quando o Tom Jobim morreu. Foi delicado. Certo dia estávamos na casa dele aqui em Manhattan. Era véspera de ele se internar para fazer a nova operação. Estávamos ele, a Ana, o Paulo, minha irmã Muíza e eu. Lembro que ele disse: “Vamos dar as mãos aqui.” Aí a gente deu as mãos. E ele falou: “Não é à toa que estamos aqui.” Só. E a gente ficou ali um pouquinho de mãos dadas. E foi muito bom. É aquela coisa que a gente não esquece, porque foi uma energia boa. Tinha uma certa tensão. Certamente ele estava muito apreensivo, quase sabendo que aquilo não ia dar certo. Aliás, eu digo “quase”, mas eu acho que ele sabia inteiramente que aquilo ali não ia dar certo. Mas, enfim, só quando acontece o final é que você fica sabendo mesmo que o negócio vai ser aquilo. Ele fez a operação, eu estava lá com a Ana e o Paulinho. Ficamos na sala de espera, aquela coisa. A gente sobe, desce, toma um café, um suco, reza, pensa.”
"Quando chove, a classe de engraxates fica em casa. Mas a gente vai trabalhar e passa produtos que protegem os sapatos da chuva e da neve. E ainda ligo para alguns clientes e falo "olha, sei que o senhor não precisa do nosso serviço hoje, mas a gente precisa". Eles brincam e riem. Esse povo é muito abençoado. Eles têm abençoado muito a nossa vida. Aprendi com eles que temos que ter pontualidade. Eles são muito rígidos, se você falhar com eles, perdem a confiança, e para resgatar é duro. Aprendi também que este país aqui nos dá a oportunidade de sonhar. O Brasil é uma beleza, mas a dificuldade é grande."
“Como se trata de brasileiros debatendo – ao contrário dos americanos que falam com começo, meio e fim – o programa sempre foi difícil de ser editado. Até mudar de assunto é difícil. O Nelsinho opinava, aí o Francis falava outra coisa, aí o outro falava. E isso acontecia também no controle, na sala de edição. E o diretor, que é o diretor até hoje, é um americano que não fala português. O rapaz do som também não fala português. Então eu sempre tive que dirigi-los – e eles passaram a saber tudo por osmose. O Francis que brigava com o Caio, e o Caio que brigava com o Francis. Mas quando começava a falação, às vezes a gente não conseguia fazer o Francis parar de falar e mudar de assunto. Ele não queria falar sobre a guerra do Iraque, que era a pauta – ele queria falar que “hoje, ele foi num filme, e viu uma exposição, e que na rua dele tem um mendigo”. E a gente falava, “Francis, essa história você já contou”. E ele falava que queria contar mais uma vez. ”
“Quem conhece esses dois mundos, Brasil e Nova York, fica um bicho esquisito. São diferentes. Sempre haverá algo extremamente desagradável e agradável em ambos, compensado pelo outro lado. Você nunca vai estar contente. Não existe esse Shangrilá. Eu adoro Nova York porque sou trabalhador. Gosto de trabalhar, sou muito curioso e ansioso – quando quero algo tem de ser para agora. Isso no Rio de Janeiro é um pouco frustrante. Quando estou lá, fico mais letárgico e mais boêmio. Leva um tempo, mas vou aclimatizando. Você chega com o pique de Nova York lá e se frustra. Agora, aqui você só trabalha. Não tem isso de acabar o trabalho e ir no bar tomar cervejinha com os amigos. Não tem aquilo da praia.”
“O pessoal daqui viu como nós, brasileiras, fotografávamos bem, como as meninas são bonitas, todas elas são sexys, todas têm um corpo legal, a maioria é desinibida, ou seja, não há problema de vestir um biquíni ou lingerie e fotografar. E isso abriu as portas do mercado. Nos últimos cinco anos, cada vez mais brasileiras vêm para cá. Quando alguém diz que é brasileira, o pessoal fala: “Ah! Para variar. Tem alguém bonita ainda no Brasil, parece que todas estão aqui!”. Ou então eles acham que todas no Brasil são bonitas, porque eles só vêem as lindas. Eles falam, “nossa, mas que país é esse?”.”
“Quando cheguei, não havia ninguém tocando cavaquinho, é lógico. Aos poucos fui trazendo material do Brasil e montando um show. O choro tem isso: o violonista tem que saber tocar o choro, os contrapontos, a baixaria; é toda uma ciência. Fomos o primeiro grupo de choro a tocar no Carnegie Hall e o primeiro a atuar de forma significativa nos Estados Unidos. Hoje, você até tem outros no país, mas não tão antigos quanto o Choro Ensemble. Começamos a tocar oficialmente em 2001. Dentro desse universo do choro, abrimos várias portas. O público americano adora. Nossos concertos são, em maioria, para não brasileiros – os caras piram.”